Breve (mas nem tanto) análise sobre institucionalização

Algumas coisas que aconteceram comigo nas últimas semanas me fizeram refletir sobre como a institucionalização afeta nossas vidas. Não quero, de maneira nenhuma, provar que isso seja bom ou ruim, apenas quero propor uma reflexão superficial em cima de alguns pontos.

Desde a antiguidade, nossa sociedade vem sendo fundamentada nas relações de dependência entre uns e outros, seja ela comercial, material ou até emocional. Porém, principalmente nos últimos séculos, essa dependência, em diversos níveis, passou a ser institucionalizada.

Durante toda nossa vida, de certa forma, dependemos em diferentes graus de Instituições: dependemos de escola para deixar nossos filhos para ensina-los do A B C às ciências da vida enquanto trabalhamos para sustentar nossas famílias, dependemos de hospitais para termos cuidados necessários à nossa saúde, dependemos de asilos para deixar nossos pais e avós pois não temos mais tempo disponível para cuidar deles.

Da infância à terceira idade, estamos sujeitos a sermos institucionalizados.

NA INFÂNCIA

Quando ainda na primeira infância, com o fato dos pais trabalharem, as poucas opções que a família tem para a criança são: deixá-la com um parente ou um conhecido, contratar alguém para tomar conta dela, ou matriculá-la em uma creche ou escolinha. É bem sabido que o contato e a vivência que crianças na primeira infância tem com outras nessa mesma fase auxiliam no desenvolvimento do controle dos movimentos, da fala e da socialização. Porém quando os pais, assim como eu, optam por colocar os filhos numa escola, estão cientes que seu filho, e toda a família por conseqüência, estarão sujeitos às regras e costumes da instituição. É muito difícil (diria até que beira o improvável) que uma escola trate as crianças como indivíduos diferentes uns dos outros, com necessidades diferentes, com evoluções diferentes e com históricos familiares muito diferentes.

Infelizmente o modelo comum de escolas e creches que temos aqui no Brasil hoje, principalmente as públicas, tem finalidade assistencialista pois, pela falta de professores e auxiliares, não tem capacidade de realizar muitas outras atividades a não ser alimentar as crianças e mantê-las limpas. Sendo assim, é muito difícil tratar as crianças individualmente, pois isso toma tempo.

Tenho vivido isso com minha filha. Ela está com quase 2 anos e meio e desde os 2 anos, as professoras da escola vem “forçando” um desfralde. Para escola é muito melhor quando uma criança vai ao banheiro sozinha e as professoras não necessitam trocar fraldas. Elas me perguntavam se eu estava tirando a fralda dela em casa, pois elas estavam tentando na escola, porém, ela nunca pedia para ir ao banheiro e, consequentemente, fazia todas as vezes nas calças. Uma professora até me disse que era melhor eu tirar a fralda de uma vez, inclusive à noite, pois assim ela se acostumaria logo.

 Acho isso muito desgastaste: ela faz xixi pela casa toda, eu fico estressada por ter que limpar (trabalhar 8 horas por dia e ainda, ao invés de gastar meu tempo brincando com ela, teria que gastar limpando o chão e repetindo para ela que não pode fazer no chão sendo que ela ainda não consegue fisionomicamente segurar o xixi e avisar que quer fazer é muito estressante para mim). Não acreditava que ela estava pronta justamente por isso: ela não conseguia avisar antes de sair, só avisava quando já estava fazendo. Aí já era tarde! Sempre achei que a melhor maneira de desfraldar era deixar ela me avisar quando estivesse pronta. Como? Simples: quando ela começasse a me pedir para fazer. De 2 semanas para cá ela vem conseguindo avisar e segurar até chegar ao lugar certo. No último domingo fomos à missa pela primeira vez sem fraldas! Fomos 2 vezes ao banheiro: 2 alarmes falsos, mas pelo menos não tivemos surpresas! E já fazem 4 noites que ela acorda seca. Muito em breve espero estar completamente livre de fraldas (pelo menos até o segundo vir…)

Sei que se não trabalhasse e estivesse o dia todo com ela, não haveria essa pressão! Imagino o que estamos ensinando às crianças com esse tipo de conduta:   não importa o seu desenvolvimento, você deve se enquadrar aos ideais da escola que tirou, sabe-se lá de onde, que uma criança deve desfraldar até 3 anos (quando não com 2).

NA GRAVIDEZ

Creio que não há período mais belo e significativo para uma mulher do que quando está grávida. Você se sente a mulher mais linda do mundo mesmo estando barriguda, tem desejos alimentares mil e todos são atendidos num piscar de olhos (dentro das possibilidades, é claro), todo mundo te dá a vez na fila do banco e do mercado, mas quando você chega a um hospital, a coisa muda de figura.

Os atendestes e profissionais inconscientemente fazem pressão psicológica cultural sobre a futura mãe, iniciando pelo vocativo: mãezinha (eles ainda acham que estão sendo super gentis, mas na verdade estão transformando uma mulher com nome e sobrenome em mais uma na fila do centro cirúrgico). Tratam todas as mulheres como se fossem animais, traçando nelas as escolhas médicas baseadas, na maioria das vezes, em interesses próprios e lucro institucional.

Esse tópico poderia se estender ad eternum, mas só quero contar duas experiências que tive durante a gravidez que me fizeram entender que meu parto, se eu quisesse ele do jeito que imaginava, não poderia ser institucionalizado.

20 semanas de gravidez, crise de gastrite violenta. Fui ao hospital e chegando lá, como de praxe, a enfermeira perguntou o que tinha e me fez exame de toque (se fosse um pouco mais esperta na época, não teria permitido) e levou meu caso ao médico. Este me receitou glicose, buscopan, plazil e mais um medicamento que não me recordo, diretamente na veia. Assim que enfermeira (ou auxiliar, também não sei ao certo o cargo desta profissional que me atendeu) colocou a injeção em minha veia, senti que estava fora.

 Avisei que estava muito dolorido e que não estava no lugar certo. Ela insistiu que a injeção era muito dolorida mesmo e que teria que colocar aos poucos. Ela continuou injetando e eu continuei a falar que estava fora. Quando já havia sido aplicada metade da injeção, meu braço começou a ficar roxo e só aí ela retirou a injeção.

 Ela quis então aplicar na mão. Eu disse que minhas veias da mão não eram boas e que sempre estouravam. Mas ela insistiu. Não deu outra: foi espetar a injeção e já embolou.

 Ela me disse que isso ocorreu pois eu estava muito nervosa. E não era pra estar??? Só então ela colocou no meu outro braço corretamente e conseguiu injetar o restante. Depois disso descobri que buscopan deve ser diluído em soro e não ser aplicado diretamente na veia, pois pode dar taquicardia. Legal, né? SQN!

 Segundo episódio: 32 semanas, 1h da madrugada, dor no rim. Eu já havia tido pedra no rim e conhecia a dor. Tinha certeza que estava com pedra no rim. Não esperei 10 minutos, e apesar de querer distância de hospital, pedi para meu marido me levar urgentemente para o lá. Após a sessão de horror no exame de toque (de novo, eu sei!), fui internada. Passei a noite tomando buscopan no soro (pelo menos acertaram dessa vez).

 Às 7h da manhã foi a primeira vez que vi um médico. Ao ler meu prontuário, a enfermeira disse que eu havia chegado com início de trabalho de parto e não havia nada descrevendo minha dor renal. Na hora disse ao médico que eu não estava em trabalho de parto e que tinha certeza que estava com cólica renal. Assim fiquei mais 3 dias internada, vendo as outras pacientes, notadamente mais simples e com menos estudos que eu, sendo levadas a crer que o melhor para elas era uma cesárea, pois era mais cômodo.

Após essas experiências, percebi que o ambiente hospitalar como hoje temos no SUS em 99% do nosso país (já existem 1% de sementinhas do bem sendo espalhadas por aí, e espero que em breve aumente muito essa porcentagem) não é propício para aquelas mulheres que pretendem ter um parto lindo, sem intervenções, ou que simplesmente não querem acabar numa desnecessária imposta pela instituição que tem como ordem de trabalho mandar para o centro cirúrgico depois um um limite baixo de horas em TP. Por isso, escolhi e planejei parir em casa. Mas isso é história para outro post.

NA TERCEIRA IDADE

Continuando a análise, creio que a mesma situação que ocorre quando crianças, nos ocorre também quando velhos: ao chegar a certo ponto de incapacidade física e mental, muitos idosos são colocados em clínicas pelos familiares ou vão por conta própria (sei que isso é um blog materno, mas assim como todos fomos crianças, creio que todos almejamos chegar à terceira idade, por isso quis escrever este último tópico). Reitero: não que isso seja ruim, pois assim a pessoa terá toda a assistência de que necessita (pelo menos em tese): alimentação, cuidados médicos, e, o mais importante ao meu ver, a socialização.

Mas, ao ser institucionalizado, o idoso deve se adaptar à rotina e às normas da casa de repouso ou do abrigo. E, se ele ainda está consciente e ativo, a tendência dele ao viver com outras pessoas muito mais debilitadas do que ele é tomar o mesmo rumo. Um exemplo disso é que o idoso que tem completo domínio sobre o aparelho urinário acaba por ser obrigado a utilizar fraldas geriátricas numa instituição onde os outros moradores precisam desse cuidado. Essa forma de nivelar os tratamentos é mais fácil e cômoda para a instituição, pois não necessitará dispor de um funcionário para limpar o chão ou os móveis caso ocorra um incidente (Não que isso ocorra em todas, mas creio que deva acontecer em muitas).

E assim, o idoso vai sendo submetido a regras que não se enquadram em suas necessidades como indivíduo, mas, como ele está lá dentro, deve obedecer.

FINALIZANDO… (UFA!)

Os salários dos funcionários são, de longe, o maior ônus de uma instituição, assim sendo, fica muito difícil que uma instituição que cuida de pessoas, seja uma escola, um hospital, um asilo ou qualquer outro tipo, tenha dinheiro para arcar com empregados suficientes para que seus clientes / alunos / moradores tenham um tratamento individualizado, como seria o ideal.

Fico me indagando (e deixo para você que está lendo esta indagação) até que ponto esse tipo de conduta influencia em nossa saúde física e emocional, individual e coletiva, e quais as soluções possíveis para que nossa sociedade entenda que cada um tem uma necessidade diferente e aprenda a lidar com isso.

Desculpem a Bíblia que escrevi, mas estava precisando desabafar. Sei que o assunto é meio pesado para um primeiro post, mas não poderia deixar de expor meu sentimento de impotência em relação a isso e, tentar achar em conjunto soluções para isso.

Juliana Troll Trujillo, ou simplesmente Ju.

Mãe, esposa, filha, irmã, dona de casa, atual coordenadora da Universidade Aberta da Terceira Idade da FESC e mulher: tudo junto e misturado.

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